Travessia do deserto (parte 2)

É exactamente assim que me encontro neste momento: a atravessar um deserto. Como seria de esperar, é árido, seco, quente, rígido, com ventos fortes e tempestades de areia terríveis e difíceis de suportar. Aparecem uns oásis de quando em vez, para retemperar forças e criar coragem para continuar.
Creio que cada um de nós alguma vez na vida (ou pelo menos uma vez na vida) terá que fazer uma travessia deste género e a minha é agora...
Isto é, estou como que a deixar a minha vida e mesmo a minha pessoa tal como a conheço até agora, percorrendo um deserto com todos os perigos e incertezas que ele envolve, com total desconhecimento do que me espera no fim, mas com a certeza plena de que tenho que o atravessar. Faz sentido? Para mim faz!!
É uma caminhada solitária e individual, tenho mesmo que contar apenas comigo para o melhor e para o pior - e isso só por si não me é fácil de assimilar. Nunca me senti tão perdida e ao mesmo tempo com tanta vontade de abraçar o desconhecido. A sensibilidade está mais presente do que nunca,... momentos de sorrisos e boa disposição mudam quase em segundos para outros de choro compulsivo e profunda tristeza; isolamento contrasta com partilha; picos de adrenalina e profunda inércia, etc. Ui, não está fácil (mas as coisas fáceis que valor têm?) e afigura-se uma caminhada loonngggaaaa...
No meio de tudo isto surgem os oásis e são eles que me mantém em contacto com a realidade e com aquela parte de mim que desejo manter, após o deserto. Certos miminhos que recebo, sorrisos que partilho, amigos que estão perto, ajudar quem precisa, o pôr do sol, uma noite cheia de luar, o ron ron dos meus gatos, o cheirinho do meu sobrinho and so on... Fazem-me falta outros oásis, mas pode ser que ainda apareçam, afinal no deserto nunca sabemos o que se nos revela do outro lado da duna.